terça-feira, 15 de julho de 2008

Ja Rule na Rocinha



O Show foi apenas uma grande jogada de marketing de Jeffrey Atkins,o primeiro rapper americano a cantar na maior favela da América Latina.
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Fui no show pra saber como seria, e foi da forma que eu esperava ...
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● Mulheres pretas seminuas rebolando no palco
● Ja Rule jogando Champanhe na plateia
● Ja Rule gritando " Faveiiila, Rocinhaaa" pra animar a plateia e dizendo que aquele é o povo dele, foi de um lugar como aquele que ele veio, que de lá sairão grandes talentos e blá blá blá.
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O que mais me surpreendeu foi um homem gordo, branco e com um camisa cheia de cifrões que traduzia o que Ja Rule dizia, que falou " Eu estou `representando´ a Rocinha aqui. .Nunca vou poder negar que, fui uma grande fã do Ja Rule, que colecionava tudo relacionado a ele e que liguei pra quase todos os hotéis 5 estrelas do Rio quando ele estava no Brasil pra saber em que hotel ele estava hospedado, só pra tirar uma foto com ele, mas hoje, 5 anos depois de tudo isso, perdi totalmente o interesse por Jeffrey Atkins assim que comecei a perceber que ele lucrava com a alienação da população negra.

Entrevista de Ja Rule feita para a Magazine

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A revista convidou rappers do Rio e de São Paulo para fazer perguntas.

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MC MARECHAL: Qual é o intuito desse show? Por que tocar onde moram pretos e pobres, na favela? Foi politicagem de produtores ou a sua consciência hip hop?

Ja Rule- Eu amo tocar para a minha gente. Não ligo para quem tem dinheiro ou não, quero estar entre os meus. Eu quis fazer esse show por isso, achei a idéia ótima. A gente tem que ganhar dinheiro, mas também tem que dar algo em retorno, entende?

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MC MACARRÃO: Por que o rap nos EUA deixou de ser contestador para ser algo vazio, que só fala de mulher, carro e dinheiro? Toda mulher é piranha, e o cara tem que ser ricaço. O que houve?

Ja Rule - Dinheiro. Sabe do que mais? Para que vou ficar lutando contra o governo, contra este ou aquele? Sabe quando eu vou ganhar? Nunca. Em vez de lutar, eu ganho dinheiro deles. Sexo vende. É só assistir à TV no Brasil. O que se vê? Bunda, peito. E o funk do Rio, o que é? De que merda você está falando? O que eu poderia fazer? Ficar detonando o Bush? "Maldito Bush, filho da puta"? Ninguém liga, as pessoas só querem relaxar, elas elegeram o Bush duas vezes! Que se #@%$, tenho que cuidar é de mim!

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NEGA GIZZA: O que você espera atingir com suas letras?

Ja Rule - As pessoas não querem ouvir falar de política, querem músicas que as façam mexer o traseiro, dançar, relaxar. Se eu encontrar um MC brasileiro, vou dizer: aonde você que chegar? Não dá para ficar sentado vendo a vida passar, fazendo protesto. É preciso pagar as contas, dar comida aos filhos.

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MC FUNKERO: O que conhece do hip hop brasileiro?

Ja Rule -Conheço o Fadz, que me trouxe para cá. Mora em Nova York, mas é brasileiro, canta em inglês e português. Também tem um cara que ouvi, o MC Diego. O hip hop no Brasil não é tão grande, mas estamos aí para ajudar a rolar.

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MC FUNKERO: Li algo sobre uma suposta origem brasileira sua. É verdade isso?

Ja Rule - Não, cara, não tenho nenhuma ligação de sangue com o Brasil. Nasci no Queens. Nova York, baby, Nova York. Mas adoro o Brasil, é a minha terceira turnê. Vocês têm peito, ousadia. É demais vir para cá. Vou detonar nos shows.

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BLACK ALIEN: O grupo Boogie Down Productions, de NY, fez a música "Jah Rulez", nos anos 80, para o disco "Ghetto music: the blue print of hip hop". Seu nome foi inspirado nela? Você é fã deles?

Ja Rule - Superfã. Boogie Down detona, são os pioneiros. Eles fizeram os moldes do hip hop, com o Big Daddy Kane, o Marley Marl, todos da Cold Chillin' Records. Meu nome não foi inspirado na música, é coincidência. Eu me chamo Jeffrey, sempre tive o apelido Ja.

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THAÍDE: Quando você veio pela primeira vez ao país, perguntaram o que conhecia da nossa música e você respondeu: "Ricky Martin é brasileiro?" Ainda acha isso?

Ja Rule - Não, cara...

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THAÍDE: De que maneira o rap americano pode contribuir com o brasileiro e vice-versa? Se é que você acha que a gente pode contribuir...

Ja Rule - O hip hop americano é a base. Tem caras que vieram do gueto, eram traficantes ferrados e hoje são milionários. Você tem que aprender com eles. Isso é um negócio, não é brincadeira. O que o hip hop brasileiro pode nos ensinar? Não sei, me digam vocês. Ponham os dois juntos na balança e vejam quem é quem. Sei que podemos fazer muito pelos brasileiros, mas eles têm que mudar de atitude. Têm que evoluir, sacou? Por isso o hip hop nos EUA manda. É um negócio de bilhões, com filmes, TV, roupas. Os MCs brasileiros têm que fazer igual. Eles não vão mudar o mundo ou o Brasil. Como trabalhar sem grana? Com fome?

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RAPPIN' HOOD: Tem uma pá de gente aqui trabalhando na comunidade, tocando de graça. Por que cobrar? R$ 30 são muito para a Rocinha...

Ja Rule - Por acaso você faz show de graça o tempo todo? É disso que eu vivo. Como posso vir para cá tocar de graça? Se for algo do Unicef, da ONU, eu topo. Agora, preciso saber para onde está indo a grana, porque alguém sempre ganha. Prove-me para onde vai, especialmente aqui no Brasil, que eu faço.